Anna Bolena | Met Live in HD (Gulbenkian)

Um breve apontamento sobre a transmissão ao vivo da Metropolitan Opera de Nova York que decorreu hoje: Ana Bolena, de Donizetti.


O espectáculo proporcionado foi de qualidade superior, em todos os campos. Netrebko, a estrela, esteve perfeita como rainha destronada, e as demais personagens centrais, entre as quais se contavam nomes como Ekaterina Gubanova, Ildar Abdrazakov e Stephen Costello também estiveram a níveis superlativos. À tragedia lirica, foi também proporcionado um carácter realista e sombrio, graças à extraordinária encenação de David McVicar. Todos esses aspectos foram unidos pela batuta de Marco Armiliato, cuja direcção musical foi de tirar o fôlego do princípio ao fim. Simplesmente brilhante.

Tal como no Trovador, a mudança de cenário deve-se a uma parede de posição alterável.
Como termo de comparação, esta produção americana não fica a dever nada à Anna Bolena de Viena (2011). Eu achava a de Viena perfeita, mas agora tenho de repensar o meu conceito de perfeição.

Don Carlo | Teatro Nacional de São Carlos

Estreou ontem a temporada lírica 2011-12 do TNSC, com a nova produção de "D. Carlos", por muitos considerada a melhor das óperas de Verdi.

Gosto do design do cartaz.
E a temporada começa triunfante, protagonizada pela glória da lírica Nacional (Elisabete Matos), rodeada por um elenco principal estrangeiro também bom. Finalmente, assisti a uma récita em que pude ouvir as personagens principais: um Rodrigo, marquês de Posa, de voz cheia, um rei Filipe imponente, e uma Princesa d'Eboli aceitável mas estridente. Infelizmente, o Carlos cujo nome tem a ópera esteve indisposto e ficou abaixo da fasquia definida pelos outros. Também já ouvi inquisidores bem mais tenebrosos.
A Bravissima Elisabete Matos no acto IV: tu che le vanità.
O coro esteve superlativo no auto-de-fé, mas a batuta de André nem por isso. Digamos que não estragou nada.
Na minha opinião, os cenários eram muito bons na sua simplicidade, apesar de os encenadores, desenhadores de luz e figurinistas terem sido fortemente vaiados e pateados na ovação final, o que talvez se tenha devido aos figurinos, que demonstravam alguma discrepância temporal entre si e, por vezes, até contrastavam com a ópera. A morte de Rodrigo também não foi clara, e, para pegar neste exemplo, a encenação acabava por fazer dele não um nobre amigo, mas um simples mensageiro.
Embora não tendo conseguido apelar a alguns cépticos (à minha frente, à saída, havia um indivíduo que se gabava de ter vaiado), penso que o Teatro de S. Carlos acertou pela primeira vez desde há dois anos. Talvez precisássemos mais de um Nabucco, nos dias de hoje? Aguardaremos até 2012...
que nota daria o(a) leitor(a)?
  
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«Amadeus» no Teatro N. D. Maria II (Crítica de teatro)

Passadas algumas semanas desde que a peça sobre Amadeus Mozart subiu ao palco do Teatro Nacional D. Maria II, resolvi assistir hoje a este espectáculo, numa representação de casa quase cheia.
Mozart e Salieri.
A peça (tal como o aclamado filme homónimo) parte da rivalidade entre os compositores Mozart e Salieri, no seio da corte austríaca do século XVIII, para explorar "a natureza do sentido de injustiça de um homem". O conjunto destes dois personagens -- respectivamente interpretados por Ivo Canelas e Diogo Infante -- é notável: os dois actores principais são muito bons e expressivos, e mantêm sempre a acção a seguir dinâmica, cativando o espectador do princípio ao fim.
Achei as encenações das últimas duas peças que vi no TNDM II (Um Eléctrico Chamado Desejo e As Três Irmãs) muito boas, e esta não é excepção.

Foi um espectáculo para ver do princípio ao fim sem pressa, e que bem poderia servir de consolação a tantos músicos que hoje andam por aí...