Turandot (ópera de Busoni) | Festival ao Largo 2012
Não foi inteiramente por acaso que, há sensivelmente um ano, o P.Z. ouviu, no meio da rua, dizer que "a temporada do Teatro de São Carlos é muito fraquinha". Só regressando à Internet foi o P.Z. confirmar o que ouvira nessa tarde. Uma das razões para aquele julgamento, marcada com um grande ponto de interrogação, era o anúncio de "Turandot / Francesca da Rimìni"-- óperas das quais, até à data, pouca gente ouvira falar. Sem um elenco que se afigurasse atractivo, a desertificação da sala de S. Carlos era quase certa; felizmente, tal como aqui se comentou, a produção foi dada por cancelada.
Aparentemente, a Turandot de Ferruccio Busoni transitou para duas representações no Festival ao Largo de 2012, contando com Sónia Alcobaça como Turandot e Mário João Alves como Kalaf, juntamente com Nuno Dias, Maria Luísa de Freitas, Luís Rodrigues e Carlos Guilherme nos restantes papéis destacáveis. A Turandot de Puccini não foi, na opinião do P.Z., a causa da decadência da obra de Busoni, visto que esta parece um conto posto em ópera e não um drama. O libretto não contribui para a progressiva condução ao clímax; os segmentos de música que ligam as cenas são disjuntos, sem revelar uma sequência condutora.
A apresentação do Festival ao Largo, por Jorge Rodrigues, costuma ser interessante. Interromper várias vezes a ópera não foi, porventura, uma boa iniciativa. Compreender a ópera torna-se importante para o grande público quando há barulhos, rumores, movimentos e luzes passíveis de causar desatenção aos espectadores, justificando-se a intervenção de um locutor. Em termos musicais, a Turandot de Busoni não é uma ópera muito coesa, pelo que qualquer interrupção é inconveniente e causa distracção. Por outro lado, a referência a factos históricos no meio da ópera foi despropositada. Por saber que Jorge Rodrigues tem um blog, o P.Z. sugere-lhe que, numa próxima ópera ao ar livre, apresente a ópera e a sua contextualização antes da hora do início do espectáculo (21h45, por exemplo) e, depois, confie na instrução dos espectadores para que estes leiam as legendas que acompanham o espectáculo, evitando o repetido derrube da "quarta parede".
Os factores que atraem o público a uma ópera ao ar livre podem ser os mesmos que o distraem e aborrecem. Numa próxima ocasião, será também importante que se saiba aproveitar o meio envolvente para criar movimentação cénica dinâmica, reutilizando os factores de distracção como cenários e ambientadores. Talvez assim se consiga ultrapassar o estado confrangedoramente estático desta "versão de concerto" ao ar livre e, assim, atrair novo público que esteja disposto a ver espectáculos na sala de S. Carlos.
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