Estreou ontem a temporada lírica 2011-12 do TNSC, com a nova produção de "D. Carlos", por muitos considerada a melhor das óperas de Verdi.
Gosto do design do cartaz. |
E a temporada começa triunfante, protagonizada pela glória da lírica Nacional (Elisabete Matos), rodeada por um elenco principal estrangeiro também bom. Finalmente, assisti a uma récita em que pude ouvir as personagens principais: um Rodrigo, marquês de Posa, de voz cheia, um rei Filipe imponente, e uma Princesa d'Eboli aceitável mas estridente. Infelizmente, o Carlos cujo nome tem a ópera esteve indisposto e ficou abaixo da fasquia definida pelos outros. Também já ouvi inquisidores bem mais tenebrosos.
O coro esteve superlativo no auto-de-fé, mas a batuta de André nem por isso. Digamos que não estragou nada.
Na minha opinião, os cenários eram muito bons na sua simplicidade, apesar de os encenadores, desenhadores de luz e figurinistas terem sido fortemente vaiados e pateados na ovação final, o que talvez se tenha devido aos figurinos, que demonstravam alguma discrepância temporal entre si e, por vezes, até contrastavam com a ópera. A morte de Rodrigo também não foi clara, e, para pegar neste exemplo, a encenação acabava por fazer dele não um nobre amigo, mas um simples mensageiro.
"Rodrigo, então, saca do punhal e cresce para a Princesa." |
"Como alheado de quanto o rodeia, el-Rei medita, engolfado nos pensamentos mais íntimos e lástima que a rainha nunca o haja amado." (Fonte das 3 últimas fotografias) |
Embora não tendo conseguido apelar a alguns cépticos (à minha frente, à saída, havia um indivíduo que se gabava de ter vaiado), penso que o Teatro de S. Carlos acertou pela primeira vez desde há dois anos. Talvez precisássemos mais de um Nabucco, nos dias de hoje? Aguardaremos até 2012...
Olá!
ResponderExcluirAinda bem que postou esta breve mas esclarecedora resenha! Tinham-me chegado aos ouvidos ecos de que ontem houve pateadas, e fiquei mal impressionada. Afinal foi sobretudo por causa de alguns aspectos relacionados com encenação e guarda-roupa, e nem tanto pelos cantores. Vou no próximo Sábado e estou ansiosa por ouvir a nossa Elisabete. Acho que o papel lhe assenta que nem uma luva...
Saudações e obrigada!!!
Sem duvida que Rodrigo se destacou muitos pontos acima de todos os outros solistas.
ResponderExcluirO Filipe II, induvitavelmente dotado de uma grande e poderosa voz, falta-lhe alguma nobreza em alguns pontos.
Éboli foi estridente? Eu gostei bastante especialmente não sendo este repertório especialidade da cantora e da dificuldade do mesmo.
Então se queremos falar de estridência o que que dizer de Elisabete Matos? Cujo timbre nos graves começa a roçar a Natália de Andrade pelo badalo e um metal que parecem laminas a cortar os ouvidos nos agudos. Onde está a jovialidade e lirismo de Elisabetta? Pode já ter cantado no MET e ser uma grande artista consagrada internacionalmente. Mas decididamente este já não é um papel para ela.
O Inquisidor foi um tanto ou quanto anedota.
O Frade de Mário Redondo foi uma agradável surpresa(pela primeira vez não parecia um cançonetista ou cantor de musica ligeira!)
Do coro destacam-se sem dúvida os Frades e os Deputados (que por sinal nem fazem parte do coro! ), porque os outros continuam os mesmo cães, ora roucos, ora estridentes, de sempre. Para alem de serem poucos este coro precisa urgentemente de ser renovado, por voz mais jovens e frescas.
A encenação não aquece nem arrefece (concordo que foi muito exagerado a vaia no fim!)
A orquestra esteve bastante bem apesar de Martin André ter provado que mais uma vez é um maestro de 2ª ou 3ª categoria!
Ainda bem que é um bom espectáculo. Tinha essa esperança. E lá estarei na próxima terça-feira.
ResponderExcluirAnónimo,
ResponderExcluirElisabete Matos tem uma vantagem em relação a todos os outros: não tem uma voz banal. Sinto-me sempre arrebatado por ouvir uma voz tão doce, ainda que não muito potente, e é aí que lhe encontro a jovialidade de Elisabete de Valois. Estridência nos graves?--Mudança de tom.
Estridência sim, na Eboli.
Obrigado pelos comentários.
Caro "Anônimo".
ResponderExcluirFalando em bom Português! Carago, você deve ter cá um caixote do lixo!!!
Cada um tem direito a sua opinião, mas não há necessidade de usar este tipo de linguagem meio...rasca! Já não há paciência!
Cumprimentos,
João Oliveira.
P.S. Obrigado pelo comentário, no meu caso pessoal, sobre os "Deputados". Deve ter, seguramente, ficado cativado e inebriado pelo amarelo das camisas! :)
Eu confesso que fiquei confuso com os chapéus de toureiro gitano nos mensageiros da Flandres...já a camisa amarela será uma questão futebolística, sem dúvida.
ResponderExcluirNão percebi a necessidade do sketch com as duas crianças ao princípio, para mais duas vezes (será para quem, à primeira, ficou I Dink I Daw a puDDycat?).
Altro, e mais importante: jovialidade em Elizabeta??? Uma mulher desesperada, na dignidade e compostura do seu destino de rainha...a voz de Elizabete Matos é PERFEITA, até nas imperfeições serve as muitas dimensões da emoção deste papel. Arrebatador
Eboli cantada engenhosamente, o engenho é anche um don fatale.
Orquestra voluntariosa, nobre solo de violoncelo. Martin André excessivo no geral, ausente nos particulares...a relação entre o TODO e os DETALHES não parece orgânica, mas um trabalho que vale pelo denodo (bela palavra) 3/5
O tenor resvala desde logo para o registo lamentoso, roçando o lamentável num papel reconhecidamente difícil de fazer sem perder a nobreza. E, aparentemente, a voz
Rodrigo soberbo, bonito e heróico como se quer. Rei soube ser quase frágil no seu monólogo. Inquisidor sinistro, os laivos eslavónicos não desmerecem. O Frate inicial muito bem, papel difícil
ABSOLUTAMENTE a não perder, a obra é de estarrecer, a realização é efectiva e tocante - e quem sabe se a voltamos a viver
Aqui ficam alguns esclarecimentos.
ResponderExcluirO amarelo das camisas é um símbolo e representa o amarelo da Bandeira da Flandres.
As duas crianças no início, é retirado e adaptado da peça original de Schiller em que Don Carlos relembra um episódio de quando ainda crianças, Marquês de Posa e Don Carlos jogavam badminton, e o primeiro acerta com o volante, acidentalmente na cara da uma tia do príncipe (a rainha da boémia se não me engano). Prontamente Don Carlos se dá como culpado protegendo o amigo e pede que seja severamente castigado apesar do estatuto de filho de um Rei. O ainda então criança, Marquês de Posa assiste a violenta punição de Don Carlos, que é chicoteado e promete um dia repagar o favor e a coragem do jovem amigo.
J.O.
Elisabete Matos, como todos os grandes cantores, gera polémica. Confesso que graças à sua CRIAÇÂO, voltei a ter o enorme prazer (muitíssimo raro ultimamente) de ouvir uma voz a sério em São Carlos. Um "Tu che la vanità" de fraseado esculpido que me levou para além da terra e da mesquinhez e "vaidades do mundo". Para um plano que estes "espiertos" do meio musical português não conhecem (até pela semântica frásica dos seus comentários...) Estridências, badalos à Natália d'Andrade? Pelo amor de Deus!!! Todos as grandes blocos de mármore têm veios (e que belos muitos deles), mas não vou querer por isso as vozinhas de plástico de fraseio convencional e "correctito" que nada acrescentam às personagens. É que domar, como a Matos o faz, uma voz daquela envergadura, é realmente obra de extraordinário artista.
ResponderExcluirSão do mesmo calibre (os tais entendedores) daqueles que arrasaram a Callas em Março de 1958... Mas a história viria dar importância a quem realmente a teve... A verdade é que ela voltou logo de seguida para o Scala de (na reposição da extraordinária Anna Bolena com encenação do Visconti) e esses mesmos "espiertos" ficaram na esplanada da Brasileira a masturbarem-se com o seu "saber"... Quanto à GRANDE Elisabete de Matos... Volta para o Met!!!
Bravo, anónimo. Era isso que eu vinha dizer.
ResponderExcluirCaros bloggers,
ResponderExcluirPreciso da vossa ajuda.
Tenho 2 bilhetes para a Opera Don Carlo para venda:
Data: 20 de Outubro ás 20h (Quinta-feira)
Lugares: Plateia, P-4 e P-2
Preço: 120€ (60€ cada)
Se houver interesse por favor mande email para hfcaetano@gmail.com .
Peço desculpa por a utilizar este espaço para o efeito, mas estou com bastante urgência e não consegui encontrar outro local onde fosse possível por os bilhetes à venda.
Obrigado
Henrique caetano
A crítica de Jorge Calado do Expresso deste fim de semana resume a mediocridade desta produção. Permitam-me assim discordar da vossa benevolência. Mesmo Elisabete Matos dificilmente se enquadra no elenco de cantoras líricas que, em tempos muito idos, encantaram o público do TNSC no papel de Elisabetta.
ResponderExcluirFilipe Vieira Nicolau
Como somos um país de medíocres, a mediocridade da escrita de Jorge Calado, assenta que nem uma luva! E já estou a ser simpatico, pois chamar medíocre aquilo que JC escreve é um elogio!
ResponderExcluirPergunto-me quantos "Divos" e "Divas" terá o amigo Filipe Vieira Nicolau visto ao vivo e em particular no Teatro São Carlos para falar dos "tempos muito idos"? Terá ido de fraldas ou no útero de sua excelsa mãe escutar opera? Pergunto-me mesmo quantas produções de ópera terá escutado ao vivo ou mesmo do próprio Don Carlo, para afirmar que uma cantora como Elisabete Matos não fica para a Historia do nosso Teatro?
Um grande bravo para os apreciadores e conhecedores do "Disco DVD e cassete pirata!" e da sua cultura de trazer por casa!
Caro Anónimo,
ResponderExcluirVeja apenas as temporadas em que Don Carlo foi representado desde os anos 50. Acresentaria ainda que tive a oportunidade de assistir a récitas fora do TNSC. E aí, meu caro amigo, a comparação com a mediocridade (para não ser mais bruto...) da produção do TNSC seria impiedosa. Não adianto mais, caso contrário, ainda me acusava de outros atributos (snobeira, etc.). Registe apenas que identifiquei a fonte de informação (JC), por isso, a "cassete pirata" não se aplica, e identifiquei a minha pessoa, algo que o meu caro amigo não ousa fazer ...Lamento, mas pouca moralidade e legitimidade terá para proceder conforme procedeu