Katía Kabanová @ Teatro Nacional de São Carlos, 10/I/2011

Provavelmente a melhor produção da temporada, esta produção tinha apenas o "isco"  Dagmar Pecková; pouco mais de chamar a atenção. E foi suficiente para o público "morder". Espera-se, à partida, para este repertório, menos público. Mas, pelos vistos, na segunda noite (de semana), a sala estava mais cheia do que numa dessas matinées desertas que se tem visto.

Acto I.
A encenação era interessante. Apresenta-nos um conceito de cenário moderno, de formas equilibradas e simples -- coisa que calha sempre bem ao Plácido Zacarias. A parede deslocou-se de modo a diferenciar o interior do exterior da casa, revelando o atraso tecnológico dos sistemas de mudança de cenários, que foram ruidosamente empurrados à mão. O acto II foi impecável. No acto III, não achei de bom gosto o painel do diabo, que naturalmente remetia para o pecado de Katya.

Katya em desespero no acto III.
A direcção musical de Julia Jones foi óptima, mas abafou os cantores.

Acto III. Os relâmpagos. Aquele cartaz parece simbolizar o pecado (tentação do Diabo) de Katya... um bocado desinteressante, não? Também não se tentou simular a chuva...
Acto III: "Deixa-a, que não vale a pena" - cena final.
Aushrine Stundyte fez de Katia e cantou bem, com um tom menos metálico do que o habitual. Ainda assim, cantou com a técnica a que alguns apreciadores chamam "grito". Nunca falha no drama visual cantando contra as colunas... pois, porque em S. Carlos só se actua assim; desde a Brünnhilde até à Mimì!
Como Kabanicha, esteve Dagmar Peckova, que exibiu uma técnica vocal óptima para uma voz e expressividade adequadas ao papel, não tendo, no entanto feito ouvir-se sempre sobre a orquestra.
Como Boris, esteve Arnold Bezuyen, que esteve bastante aquém do que se pretendia. Não tem um timbre especial, sendo também desfavorecido por notas agudas muito forçadas.
Hans Georg Priese assumiu o papel de Tichon, tendo cantado e actuado bem. É um cantor regular que se ouve bem.


Estas imagens são da produção (parece-me ser igual) do Coliseu de Londres, em Maio de 2010. O encenador é David Alden.

10 comentários:

  1. Obrigado pelo relato. No Domingo lá estarei...

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  2. What a lovely dog! She or he's got a very pretty face.

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  3. Há uns anos, óperas como esta enchiam a sala e a segunda noite era a mais concorrida. Normalmente esgotava. Se agora o São Carlos fica com os lugares por vender, penso que as razões serão outras.

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  4. Viva, Paulo. Mantendo a qualidade constante?...
    De qualquer modo, não há publicidade a sério. Fartam-se de gastar dinheiro naqueles marcadores, mas quem não sabe onde os encontrar fica em branco. O único telejornal que anuncia os espectáculos do S. Carlos é a a RTP2 uma vez por estreia.

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  5. Por um lado, a divulgação é insuficiente. Por outro, o público zangou-se e afastou-se do Teatro por causa dos disparates de Dammann.

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  6. Precisamente. O nosso público até parece ser apreciador, e publicidade a "disparates" (que por maior esforço que se tenha feito para ultrapassar, continuam a verificar-se) é dinheiro deitado à rua.
    Se se atrair pessoas que não conheçam a ópera, dificilmente estes disparates vão reter o novo público: dinheiro deitado à rua de duas maneiras.
    A solução, a meu ver, é começar a pensar em impulsionar bons espectáculos para a temporada que vem, para que na seguinte haja cantores que aceitem vir fazer as tais "grandes produções de Verdi e Wagner". E daí para a frente!

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  7. Também acho confrangedor ver o São Carlos tão vazio. Concordo com as vossas opiniões, o público zangou-se com os espectáculos grotescos de Damann. Para quem frequenta o São Carlos há muitos anos, como é o meu caso, vimo-lo bater verdadeiramente no fundo!
    Publico português ansioso por ver ópera de qualidde? Sim, claro! Vejam-se os casos das óperas em versão concerto na Gulbenkian e, sobretudo, as transmissões do Met Live (Gulbenkian esgotada ou quase, sempre) e, neste caso, é ver numa televisão gigante e de muito boa qualidade.
    Merecemos que o nosso único teatro de ópera nacional nos dê espectáculos com qualidade aceitável. Não podemos ter as grandes estrelas, todos sabemos, mas se fizerem como na era Pinamonti, saberão escolher excelentes cantores no início de carreira ou ainda pouco conhecidos internacionalmente. E, claro, dando lugar aos portugueses, pondo-os a cantar aquilo que podem.
    E, também claro, corrigir rapidamente uma das maiores infâmias praticadas neste teatro - a exigência de uma arbeitsprobe a Elisabete Matos! Brilha no Met, mas tem que mostrar a uma corja de ignorantes em Lisboa que sabe cantar!!

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  8. O Met na Gulbenkian anda, de facto, esgotado. Há lugares vazios, mas isso é por causa dos faltosos.
    Acho que na dúvida de se conseguirem ou não obter lucro (ou dimiuir as perdas) com grandes cantores, deveriam fazer umas sondagens na FCG, ou até no TNSC. Se os resultados fossem favoráveis - e seriam, de certeza -, mandavam vir cá um(a) grande cantora(a) com um bom maestro para dar um recital 1 ou 2 vezes. Se inflacionarmos muito os custos, isso ficaria ao preço de uma produção medíocre de 5 ou 6 récitas. A satisfação do público aumentava, os gastos mantinham-se (ou diminuiam) e confirmava-se se havia ou não possibilidade de fazer umas duas produções de nível verdadeiramente internacional por temporada.
    Estou só a especular, claro. Não quero desautorizar as entidades a quem compete fazer estes estudos...
    Mas ninguém pode negar que isto é um ciclo: espectáculos são maus -> público foge -> sala vazia -> não há dinheiro (+ cortes orçamentais) -> espectáculos são maus -> etc.

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  9. Depois da leitura do vosso artigo, fiquei ainda mais curiosa em ver a ópera, e lá estarei no fim-de-semana para ouvir a música do genial checo! Obrigada pelas dicas, estou muito interessada em ver a encenação...

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  10. Recomenda-se :-) Como disse, a encenação é interessante - no sentido lato. Poderia estar mais bem desenvolvida e pareceu-me um pouco "vazia" dentro do potencial deste conceito moderno.
    Bom espectáculo sem intervalo.

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