Um ano depois do
princípio (este
blog já fez um ano!!), põe-se a questão: o novo ciclo do
Anel do Nibelungo da Metropolitan Opera House mantem a qualidade? Por um lado, a concepção cénica dirigida por Robert Lepage, através da
Valquíria, tem sido complicada à medida que se desenvolve a própria máquina-diva; cada vez mais complexas se tornam as projecções e os movimentos (infelizmente bué de barulhentos), perdendo, por vezes, em harmonia -- mas ganhando em pormenor. Talvez a cena do dragão pudesse ter sido mais interessante, ainda assim...
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Siegfried forja Nothung, a espada de seu pai. |
Por outro lado, de quatro cantores gloriosos (Wotan, Loge, Fricka e Mime), passou-se apenas a dois: Wanderer e Mime. Nessa perspectiva, apenas Bryn Terfel, como o deus Wotan disfarçado, e o Mime de Gehrard Siegel estiveram "gloriosos". Na despedida do ciclo, os dois cantores estiveram brilhantes vocal- e cenicamente e, durante as óperas, acompanharam muito bem a evolução dos personagens desde o roubo do ouro do Reno até à união de Siegfried e Brünnhilde.
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Três enigmas pôs Mime ao viandante, e aos três este lhe respondeu. |
Jay Hunter Morris não me pareceu muito convincente. Não gosto muito do seu timbre rosnado, e tão-pouco da sua actuação mecânica que em nada corresponde à espontaneidade desinibida que se espera de Siegfried, o outro
a quem o medo é uma cena que não lhe assiste. Compreendo que possa não haver muito melhores nestes dias, mas
this is the Met! Deborah Voigt esteve bem, mas não me pareceu aproveitar totalmente os escassos minutos em que aparece no acto III. Em todo o caso, é difícil apreciar cantores fora dos seus reportórios adequados. Restam Alberich, Erda, Fafner e o pássaro da floresta, que foram muito bem interpretados na qualidade de papéis secundários.
Fabio Luisi acabou por tomar as rédeas da orquestra nesta produção pensada para o maestro Levine. Esteve mais ou menos à altura da tarefa, conduzindo exemplarmente a orquestra wagneriana até ao terceiro acto, cuja direcção musical achei um pouco rude. Em jeito de conclusão, quero notar que não tenho dúvidas de que esta é a melhor encenação moderna do Anel, e tem por grande virtude o facto de ser de essência clássica. Muitos criticam as produções tradicionais e as ultra-modernas, respectivamente, pela sua opulência, e pelo seu pseudo-avant-gardismo, mas parece-me que a máquina--verdadeiramente avant-garde--, custando milhões de dólares, está a afectar o orçamento para a escolha de bons cantores principais. Afinal, este Siegfried caiu de repente no Met, vindo de Paris, Texas!
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Pela excelente encenação, por Terfel e Siegel! |