Mais uma vez, do grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, assistimos a uma ópera Live (or not) in HD da Metropolitan Opera House. Desta vez, foi A Valquíria, de Richard Wagner. Esta produção do Anel do Nibelungo tem sido muito publicitada por todo o mundo pela sua encenação revolucionária, concebida por Robert Lepage.
Uma das principais imagens publicitárias desta nova produção. |
A encenação é extraordinária, embora, como já tenho ouvido dizer, a cena final não tenha nem metade da potência da produção de Schenk, por muitos considerada "uma doença". Uma descrição pormenorizada pode ser lida no blog "Fanáticos da Ópera".
Siegmund, na tempestado do princípio do acto I. |
Siegmund e Sieglinde foram, respectivamente, interpretados por Jonas Kaufmann e Eva-Maria Westbroek. Que duo! Kaufmann tem sido muito criticado "por não ser um verdadeiro heldentenor", mas penso que isso (sim) é uma crítica verdadeiramente destrutiva; com o seu timbre "escuro", Kaufmann consegue dar grande credibilidade a Siegmund. Sieglinde foi simplesmente fantástica!
Sieglinde regressa para junto de Siegmund. |
Bryn Terfel, que ultimamente tem tido queda para wagneriano, foi um excelente Wotan. Também aqui as opiniões têm divergido, e até compreendo o sentido daqueles que dizem que wagner não é his cup of tea. A voz, por vezes, parece pouco cheia para o deus, mas a sua expressividade, quer vocal quer cénica, ultrapassa em larga medida esse possível defeito.
Sieglinde indica a espada Notung. |
Como se escreveu no Opera Obsession, "quando é que alguma vez se quis que o dueto de Fricka com Wotan durasse tanto"? A isso, devemos a excelente prestação vocal de Stephanie Blythe. Na na FCG, sentia-se aquela maravilhosa voz a encher a sala -- e a cabeça de Wotan!
O fim do diálogo de Wotan com Fricka. |
Hans-Peter König, barítono de inquestionáveis qualidades vocais, deixou-me um pouco desapontado com o seu Hunding. Faltou-lhe objectividade no modo como expunha os seus sentimentos. Por exemplo, quando dizia que Siegmund não lhe era bem-vindo por este não ser protegido pelas nornas, mais parecia que estava a contar uma piada, e penso que não é essa intenção.
Wotan conta a Brünnhilde a história do Ouro do Reno. |
Mas a alma do espectáculo, a Valquíria de Deborah Voigt, é que pode ter sido uma quebra na qualidade do espectáculo -- temos uma cantora principal fora de repertório. Por mais que tente mudar o ponto de vista, desde que começam aqueles Hojotohos, nota-se esse defeito. É uma Brünnhilde pouco modesta e demasiado travessa, que não me conseguiu convencer.
Ao morrer, Siegmund reconhece o seu pai, Wälse. |
Devo deixar uma nota muito positiva dirigida às oito outras Valquírias, que estiveram perfeitamene sincronizadas, sem gritos e com vozes bonitas. HojoTToho para elas!
A brilhante encenação para a cavalgada das valquírias, merecidamente aplaudida! |
A direcção musical do grande Levine vai cada vez mais rápida, e já começo a compreendê-la, mas, à medida que algumas partes da música atingem pontos de calar as tosses, sinto que o amor -- já em si com uma orquestração, digamos, wagneriana -- vai-se perdendo. Já assim falava Carlo Maria Giulini...
A encenação do épico finale, embora interessante, não tem nem metade da potência da encenação de Schenk. |
Encerra-se com chave de ouro a temporada de 2010-2011 do Met Live in HD. Veja aqui o que virá na próxima.
★★★★★
Excelente espectáculo; auditório quase cheio.
Wagner no seu máximo esplendor! Um espectáculo inesquecível.
ResponderExcluirFoi lindo, o ambiente na Gulbenkian esteve muito bom, vivenciou-se um verdadeiro momento wagneriano a que ninguém deve ter ficado indiferente!
ResponderExcluirTambém sou fã da produção de Otto Schenk.
Os gémeos e Terfel foram adoráveis.
Peter Konig compôs um bom Hunding.
Frika encheu a sala com a sua voz maravilhosa.
Voigt desiludiu-me um bocadinho.
Gostei bastante da encenação, desta vez.
O guarda-roupa, um bocado cyborgue, foi interessante no conjunto.
A direcção musical foi perfeita.
Que mais podemos querer?
Agora, é esperar pelas próximas jornadas...
Está anunciado um debate aberto desde ontem neste blogue que não aparece aqui. É assim?
ResponderExcluirE o blogger não me está a reconhecer hoje, não percebo porquê!
FanaticoUm
Caro FanaticoUm,
ResponderExcluirPara não me esquecer, às vezes deixo nos rascunhos os temas dos debates e rascunhos de introdução. Nesse caso, o que ficou era o que eu ia responder à Elsa Mendes, mas preferi guardar nos rascunhos para o verão. Sem querer, carreguei no publicar em vez do guardar. Em breve o anúncio terá um post a combinar ;-) Boa sorte com isso, o Blogger é mesmo assim lol
Olá!
ResponderExcluirO debate sobre encenações não está a aparecer...
(Resposta acima.)
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