Anúncio do novo Rigoletto da Metropolitan Opera. |
“Espectáculo é sempre espectáculo”—muito bem calha esta estupenda afirmação de Martin André, actual director artístico do Teatro de S. Carlos, recentemente entrevistado pelo “Público”. Estava há dias o P.Z. a ver os filmes promocionais do novo “Rigoletto” da Metropolitan Opera. Ser espectáculo—é; mas de que género? Para discutir essa questão, na óptica pretendida, será necessário inquirir acerca da diferença entre a ópera e as diversas artes do espectáculo. Enumeram-se, entre essas, o circo, o ilusionismo, a dança, a música, a ópera, o ballet, o teatro e o musical.
Começando pelo último, a diferença é
tão simples como o seguinte: o bom gosto na ópera; o pindérico na Broadway. O
novo “Rigoletto” da Met abre numa
espécie de cabaret da Broadway (cheio de luzes e imagens de que o próprio
Rigoleto se deve rir), ao som de “Questa
o quella” cantada pelo duque de Mântua vestido de entertainer, de microfone na mão. Até os espectadores que nunca
tenham visto ópera estranharão a disparidade entre o estilo da música e aquilo
que vêm em palco! Tal acontece porque a ópera foi pensada com bom gosto e
jamais admitirá, de forma coerente, a associação com a arte do espectáculo do
musical.
A ópera, nos seus diversos géneros—a distinguir
muito bem do excesso de diversidade do musical—incorpora música de carácter dramatúrgico, teatro e a
dança (pelo menos em virtude da harmonia cénica). Boas abordagens que
desprendem o “carácter dramatúrgico” dos estereotipados cenários opulentos têm
provado que a razão de a ópera ser ópera e não ser musical é essa mesma: é ter
um carácter dramatúrgico flexível que lhe confina características únicas e que
denuncia logo leituras incorrectas. Por mais ridícula que seja uma interpretação
de “Mamma Mia!”, o bom acolhimento
por parte do público está garantido. E com o “Rigoletto”? e com a “Traviata”? e
com o “Trovador”?—só para referir a trilogia de Verdi que passará em Abril e
Maio, em S. Carlos.
Estará ainda o leitor à espera de ler
acerca das diferenças entre a ópera e o circo ou o ilusionismo? Parece que
Martin André tiraria proveito dessa leitura, visto que, pelos vistos, “espectáculo
é espectáculo”! E, com base nesse argumento falacioso que esta crónica acabou
de desmontar, bem se poderia contar com um espectáculo de variedades, com o
Circo Chen ou com uma noite de fados em S. Carlos. Ah, esperem, André também anunciou
que vai mesmo preparar uma noite de
fados em S. Carlos. (WTF?!)
Pelo menos é música; mas sendo música,
porque não se convida o Tony Carreira para ir lá cantar também?! Será por uma
questão de seriedade? Será porque se trata do único teatro de ópera—uma casa
bicentenária—em Portugal, que merece respeito? Poder-se-ia contar, decerto, com
a elite “VIP” (?!mas-o-que-é-isto?!) que veio assistir ao degradante evento da ante-estreia do filme Anna Karenina, em Novembro. Mais dia menos dia, S. Carlos transforma-se no Politeama...
Mas que espectáculo! Pelo menos, espera-se que os
fadistas convidados façam jus ao único nome do fado que—diria o P.Z.—foi digno
de pisar os palcos de S. Carlos (e de facto pisou): Amália Rodrigues. Mesmo
sendo um grande apreciador de Fado (que até na semana passada esteve na Mesa de
Frades), o P.Z. gostaria de garantir, desde já, que se recusará, como protesto,
assistir a esse espectáculo de fado; embora lhe pareça apetitosa a sugestão do Bosc d Anjou, em comentário ao Valkirio: noite de fados na sala—e rija
sardinhada no foyer! Mas ópera é ópera, fado é fado e S. Carlos é para ópera e não para fado.
Em breve, este blog partilhará uma opinião sobre o anúncio da temporada de Verdi
anunciada no mesmo artigo do “Público”, que parece uma boa aposta.
Uma boa aposta! |
Pateta. Adoro ver quem se quer grande mas, quanto mais o tenta, mais pequeno se torna; Plácido Zacarias é um saloio triste, triste porque se torna claro, ao ler as suas "crónicas", que não se diverte com o que diz gostar. Quem ama uma arte, ama-a pelo que é: não por quem a vê, como a vê ou o que usam quando a vêm. A sua ânsia pela seriedade, bom gosto e o revelado facciosismo é uma prova unívoca de que gosta de parecer ser ao invés de ser o que gostaria. Logo, não tem bom gosto e é muito pouco sério, como é corolário desta, conhecida, atitude. Não passa de um simplório com coroa de latão, pintado a ouro de um feltro comprado no chinês. Olá e adeus, pequeno anão.
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