Concerto comemorativo de 25 anos de carreira "Gala" de Elisabete Matos no Teatro Nacional de São Carlos (crítica)



La Matos

A maratona de quase três horas e meia de boa música que se ouviu ontem em S. Carlos foi, sem dúvida, um marco na história mais recente deste ilustre teatro que, felizmente—muito a agradecer a Elisabete Matos por estes últimos dois concertos—parece encontrar sinais do “ressurgir” tão aguardado pelos amantes de ópera. Não foi anunciado o futuro da temporada de 2013, que deixa elevadas expectativas devido a boatos correntes e aos bicentenários de Verdi e Wagner. Porém, como o coro do TNSC, o público pôde cantar, ainda que apenas por uma noite, “vitória, vitória!”, pois Macbeth foi subjugado e a Escócia está livre!

O programa consistiu em excertos de quatro óperas em que Matos logrou grande êxito internacional: Le Cid, Macbeth, La Fanciulla del West e Turandot, que cantou ao lado de insignes figuras da lírica. Juan Pons e Aquiles Machado são duas dessas figuras que aceitaram vir a S. Carlos comemorar os 25 anos de carreira da soprano portuguesa. O primeiro é um mito da história da ópera, pelo que ouvi-lo após ter feito a sua última participação numa ópera completa, agora junto a Matos num dueto de Macbeth, na cena do fantasma de Banquo e na ária “Pietà, rispetto, amore” foi um privilégio.

Não menos privilégio foi ouvir a cena dos enigmas completa, incluindo In questa reggia, com a princesa Turandot de Elisabete Matos e o Calaf de Aquiles Machado. La Matos é verdadeiramente assustadora sobre o coro neste papel, braços cruzados sobre o peito ao estilo faraónico, expressão vocal acutilante e, no entanto, com uma doçura no timbre subjacente à ternura latente da personagem, revelada quando infantilmente exclama, após Calaf decifrar aos enigmas “ah, não, não serei tua! Nunca serei de ninguém”—assim encontrou o P.Z. uma Turandot ao nível de Nilsson, Ricciarelli e Marton (muito superior a Guleghina). Aquiles Machado respondeu convictamente aos enigmas com uma admirável projecção vocal que já revelara em Le Cid ("Ô souverain, ô juge, ô père"), onde também Matos brilhara em “Ah, pleurex mes yeux”.

La Fanciulla del West foi o papel de estreia de Elisabete Matos na Metropolitan Opera House, em 2010. Na altura, chegou a especular-se se Matos substituiria Voigt na transmissão Live in HD, o que infelizmente não aconteceu, visto que alguns críticos aclamaram Matos como uma melhor Minnie do que Voigt. A ária e o dueto foram apaixonantes; sobretudo o dueto, em que Aquiles Machado, como o bandido Johnson, e Elisabete Matos formaram uma dupla admirável, criando um ambiente de grande tensão no momento de viragem da ópera, quando Johnson pede a Minnie “um beijo, ao menos” e o momento de tensão, após o beijo, é quebrado por Johnson dizendo “Minnie, que doce nome tens”. Maravilhosa música tem este “western” operático e maravilhosa interpretação foi esta, diz o P.Z.!! Foi também o tenor que encerrou o programa em peso, com uma excelente interpretação de “Nessun dorma”.

Para o P.Z., este foi o centro do espectáculo, embora também tenham sido notáveis todas as outras interpretações, como as de Elvira Ferreira e Sónia Alcobaça nas árias de Liù—a primeira um reviver dos bons velhos tempos de S. Carlos, ainda que um bocado desafinado!... “Ah, la paterna mano” foi interpretada por Carlos Guilherme, recebendo uma grande ovação (maior antes do que depois de cantar). Este concerto foi simplesmente arrebatador (mesmo nos momentos nesta crítica omitidos), deixando ao P.Z. os únicos lamentos de não ter ouvido Pons como Rance, o sheriff da Fanciulla, visto que o conhece por DVD; o outro lamento é o de não ter havido um arranjo cénico mais agradável no palco. O P.Z. agradece a Elisabete Matos por este concerto e por 25 anos de, como dizia a Antena 2 sobre a Tosca, “vício d’arte”.

★★★★★ (5/5)
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Galeria de Fotografias (via Hardmusica)

Juan Pons
Aquiles Machado

Um comentário:

  1. Obrigado PZ por este seu relato tão expressivo e completo. Não tive possibilidade de estar presente e já imaginava que iria perder algo de muito raro. Assim deve ter acontecido, mas a leitura das várias crónicas que vão aparecendo nos blogues, pelo menos, fazem-nos imaginar o prazer que terá sido esta récita.

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