Faust | Met Live in HD

A ópera "Faust" foi mais uma extraordinária transmissão Live in HD da Metropolitan Opera House de Nova York. Para este espectáculo, reuniu-se um elenco excepcional: Jonas Kaufmann (Dr. Fausto), Rene Pape (Mefistófeles) e Marina Poplavskaya (Margarida). Faust é a história do Dr. Fausto, que vende a sua alma ao diabo em troca de juventude e outros serviços. À medida que os dias passam, a vida de Fausto transforma-se num inferno, antes mesmo de acabar. O defeito da ópera reside na partitura escrita à moda de grand opéra, demasiado alongada nos últimos actos.

"E Satanás comanda a dança!" (Mefistófeles).
Têm chovido críticas em pouco ou nada favoráveis à encenação moderna, que me parece mais um elemento de excelência. A acção -- agora transposta para a segunda guerra mundial -- principia com Fausto a desenvolver a bomba atómica, culminando o quarto acto com a nuvem-"cogumelo" e o infanticídio cometido por uma Margarida atormentada pela infâmia. A ciência funciona como a forma de atingir a verdade e o Céu -- daí as escadas no cenário.

Mefistófeles atormenta Margarida, no acto IV.
De todas as prestações que vi de Poplavskaya, esta foi de longe a melhor. A soprano russa mantém-se pouco expressiva no canto, e os sentimentos confusos de Margarida nem sempre transpareceram através da sua agradável voz. Mas é de notar que, em actuação, já agiu mais naturalmente. Resta um problema: a face quadrada.
A direcção musical foi de Yannick Nézet-Séguin, que já dirigira Poplavskaya no D. Carlos. Mais uma vez, foi muito competente.

Poplavskaya na célebre ária das jóias: "Ah! Je ris de me voir si belle dans ce mirroir!"
Jonas Kaufmann foi um Dr. Fausto como nunca vi nem ouvi antes. Começando com figura velha e sombria, após vender a alma ao diabo em troca de juventude, surge um Fausto de boa figura, investindo insistentemente sobre Margarida. O seu timbre escuro adequa-se perfeitamente ao velho Fausto corrompido. O timbre forçado também teve uma consequência negativa, que foi o falhado dó agudo do final da ária "Salut demeure chaste et pure". Mas todas as emoções estiveram lá, e sentiu-se toda a emoção de Fausto ao seduzir Margarida, ao aperceber-se do que o esperava junto de Mefistófeles, ou, de forma mais pessoal, ao descobrir o que acontecera à sua amante e, em grande mágoa, lançar-se à morte, onde o esperava Mefistófeles no submundo.

Fausto e Margarida.
Todo o espectáculo, desde as imperfeições de Poplavskaya, a falhada nota aguda de Kaufmann e a admirável encenação e caracterização de personagens canalizaram a admiração para o Mefistófeles de Pape: a estrela deste Fausto. Sem exageros cénicos ou vocais, a personificação do diabo foi tenebrosa de um modo sublime -- sobretudo na cena da catedral (acto IV). É assim mesmo que se quer este diabo moderno -- subtil, e não estereotipado ou conspícuo --, personificando do mal, o erro e a tentação. Mens agitat molem.

Pape como Mefistófeles.
Faust, da Metropolitan Opera House, é uma excelente produção com direito a crítica inteira no Opera Lisboa, contando com excelentes solistas e uma óptima concepção cénica. Sem dúvida: é uma produção com alguns defeitos. Mas quais são as produções que os não têm? Agora quero comentários.


que nota daria o(a) leitor(a)?
  
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Um comentário:

  1. Estou de acordo com quase tudo o que escreveu. Também já escrevi a minha opinião no nosso blogue.
    Foi mais um espectáculo de grande qualidade em que se "esquecem" as pequenas falhas e se enaltece a Gulbenkian, que nos proporciona a possibilidade de assistir a estes magníficos espectáculos de ópera.

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