Gianni Schicchi & Blue Monday @ Teatro Nacional de São Carlos, 13 de Fevereiro de 2011

Ora aqui está um espectáculo para entrar e sair na mesma.

Blue Monday esteve em estreia portuguesa numa produção mais ou menos proporcional ao que a ópera pede. Pessoalmente, acho que a encenação ficou aquém do que se deveria ter num teatro nacional. Uma sugestão concreta? Reutilizar, sem quaisquer remodelações, os óptimos cenários (e figurinos) de "Um Eléctrico Chamado Desejo", exibidos no Teatro D. Maria no ano passado.

Blue Monday: cenários pouco interessantes e figurinos mal concebidos (segundo os esclarecimentos do programa).
A soprano Laura Giordano -- que já cantou com Flórez -- foi substituída por motivos de saúde, tendo-nos deixado com uma Lauretta pouco interessante, em dueto com um Rinuccio (Leonardo Capalbo) de bonito timbre e pobre técnica, que nem sempre conseguia projectar a voz. Gianni Schicchi foi interpretado por Yanni Yanissis, que cantou bem, faltando-lhe expressividade quer no canto, quer na actuação. A encenação foi um fiasco.

Gianni Schicchi: a encenação promoveu o carácter cómico da ópera, exacerbando-o, por vezes, a proporções exageradas. O esquema das luzes esteve de tal modo que, mesmo estando no libretto que as luzes devem reduzir-se na cena do testamento, estas continuaram bem acesas.
Na minha ignorância, penso que a direcção musical em Gershwin não é um factor determinante, ao contrário de Puccini. Penso que a direcção musical do Director Artístico tendia a separar os instrumentos, não tendo conseguido atingir a subtil melodia de Gianni Schicchi, condizendo assim com a exagerada encenação da mesma ópera.

Exibindo duas óperas de um acto, pergunto-me se não se poderia ter antes levado três ao palco e ter o Tríptico. Parece que o espectáculo se integra num "ciclo" de três "óperas, que surge na sequência [do] Outro Fim (Culturgest, 2008), (...) feitas da mesma matéria. De fins evidentes", mas acho a ideia muito desinteressante e pouco acessível.

24 comentários:

  1. Também lá estive e foi mais um dia de triste memória para o São Carlos. Fraquíssimo é a palavra que se aplica a quase tudo o que se passou esta tarde no nosso teatro nacional de ópera! Uma tristeza.

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  2. Quando fecharem aquilo de vez e transformarem o s.carlos num condomínio de luxo vossas sumidades ficaram certamente mais felizes.

    Gente que vive fora da realidade do mundo e do pais é algo que nem merece comentário....

    Já agora se é tudo assim tudo tão mau porque raio continuam vocês a gastar os vossos belos euros para a assistir a porcaria??

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  3. Fazes uma boa pergunta, anónimo... :-P
    É uma espécie de vício, isto. Por exemplo, se deixássemos de importar Marlboro, de certeza que haveria uns quantos que iriam comprar lá fora; os restantes fumadores passariam a fumar outras marcas, lamentando-se da ausência da primeira. Mas garanto-te que não me apanhas nos Banksters!! xD

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  4. Também estive por lá. A obra norte-americana era interessantíssima, não merecia ser tão mal tratada. Não é fácil falar de bom gosto e mau gosto... mas também achei que a encenação de Um Eléctrico Chamado Desejo foi bem mais conseguida e sóbria. Porquê esta necessidade de fragmentar e colocar adereços que... que... enfim. Eu adoro encenações «modernas», mas preciso de ver consistência. Ainda bem que há um novo jovem encenador, mas não gostei do que vi hoje. Aliás, leram o currículo dele?
    Quanto a Gianni Schicchi, todos lembramos belíssimas encenações e interpretações. Com uma temática tão soberba como a Florença medieval, sobre a qual ainda há tanto para revelar...
    E depois, musicalmente, foi estar a ouvir Puccini sem a presença de vozes puccinianas ... o que é frustrante.
    Mas, apesar das críticas, não vou deixar de frequentar aquela casa, porque gosto muito dela e é a nossa única casa de ópera... melhores dias virão, certamente. Saudações musicais para todos!

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  5. Viva, Elsa!
    E aqueles de calções, hem? xD
    O conceito de encenação moderna também me agrada muito, à partida. Mas como tratamos essencialmente de obras mais antigas, interpõe-se a pertinência do transporte temporal. Nestes casos, eram duas óperas de absoluta pertinência para transporte temporal, mas falhou. Porquê? Não sei. Se calhar, porque o encenador é um engraçadinho com muitos amigos! - Isso explicaria o currículo (também está mesmo posto a jeito...)
    Anónimo, tens aí uma boa resposta que eu subscrevo!

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  6. Amigos do São Carlos,
    São precisas mais críticas como as vossas, de público que habitualmente vai àquela casa. Não gostaram, têm todo o direito! Vocês e as pessoas que estão no palco são a razão de existir daquela casa e no entanto são os dois grupos mais mal-tratados.
    Os custos do teatro crescem em alguns sectores, apesar e/ou graças à opart e no palco poupa-se...
    Incito-vos a escrever à direcção do teatro!
    E não deixe de ir só porque é uma ópera portuguesa, em português e cantada por portugueses.
    Cumprimentos

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  7. A Laura Giordano é uma boa soprano mas não porque já cantou com Florez (talvez ele já tenha cantado com centenas de sopranos - ndr: com Florez, a Laura terá até gemido pois foram namorados vários anos...mas adiante.) Ela é boa soprano ainda que tenha cantado com o Leonarado Capalbo, que canta francamente mal. Ainda assim gostei do Blue Monday mais do que do Schicchi. E acredito que o São Carlos fará o que pode com o dinheiro que tem. E assim dá ao menos a possibilidade de fazer evoluir alguns bons cantores portugueses. A ver o que virá a seguir...

    RJF, Parede

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  8. Caro anónimo,
    Já pensei em escrever ao teatro ou até em ir falar pessoalmente com o Director Artístico, que diz que recebe toda a gente. Estou a pensar em desenvolver isso lá para o fim da temporada, do género "folha de sugestões". Desenvolvemos aqui em debate; depois dá-se a conhecer ao TNSC.

    Caro RJF,
    Estamos de acordo. "A ver o que virá a seguir... " A seguir vêm os Banksters, e não me apanham lá metido de certeza!!!! x)

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  9. Vais falar com o director artístico vais!!!! HAHAHAH! Se fores para lá com os disparates que se passam por aqui e "Belogues" similares, levas um arraso que nem sonhas!!

    Alem disso vocês tem a noção do é programar um teatro? Pensam que isto é ir buscar um produção ali e trazer para aqui e adaptar só porque é giro?!?

    O teatro são carlos programa com meses de antecedência enquanto teatro europeus programam com 2 anos e mais....como diz o anonimo ee cima é o melhor que se consegue com o dinheiro que há e são as condições possíveis. Em vez de cuspir em tudo, deviam era dar valor aqueles que ainda andam a lutar para manter a lírica viva em Portugal.

    Se queres mesmo te queixar via falar com a ministra da cultura, o Sr. Sócrates e semelhante porcaria que trabalha com eles... são eles os culpados da cultura estar a ir pelo caneiro ....

    Tenho dito.

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  10. Só tenho uma coisa para te dizer, anónimo! Ainda bem que vão a tempo de trabalhar a sério para 2013, então!!
    Obrigado pela visita :-)

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  11. Também lá estive no Domingo à tarde e tive a sensação de estar a assistir a uma récita de amadores ou de uma escola. Que não há dinheiro todos sabemos, mas ao menos alguém diga ao encenador e ao cenógrafo que não se pode pôr os cantores dentro de uma caixa que impede a projecção das vozes, já de si pouco brilhantes. A primeira parte foi deprimente. Com o Gianni Schicchi as coisas melhoraram um bocadinho a nível vocal, mas o nível médio manteve-se sempre por baixo. Uma tristeza.
    Para o Anónimo 1, quero acrescentar que recentemente assistimos a récitas muito aceitáveis de Kátja Kabanova (não sei se vai bem escrito). Se agora as críticas são tão negativas, é porque em termos absolutos as coisas não correram nada bem.

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  12. Realmente, indo ao YouTube e procurando "me singing puccini", encontramos muita coisa semelhante ao tenor, mas geralmente ninguém se atreve a cantar como a "Zita" e pôr no YT - a menos que seja de propósito...
    Eu preferia que cá viesse uma grande produção e o resto do tempo se tivesse o S. Carlos fechado. Seria melhor do que esta desonra.

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  13. Pois eu não diria já que não a Banksters...... pode bem ser uma surpresa. Sei bem que não se pode agradar a toda a gente por isso haverá os que não irão gostar. Aceita-se... mas porque raio não haveremos nós de apoiar a nossa ópera?? É por essas e por outras que óperas perfeitamente dignas de figurar em qualquer temporada internacional como a D. Branca de Keil não são (re)conhecidas.

    Se a opção for não gastar muito dinheiro (pelo sim pelo não) há sempre os bilhetes de última hora... é uma espécie de meio-compromisso que poderá resultar ou em meio-fracasso ou em muita satisfação. Fica-se sempre a ganhar.
    Mas por favor, a ir, que se vá com espírito positivo.

    Saudações
    B.

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  14. Caro Anónimo,
    Eu só digo isso porque já tive umas quantas más experiências com estreias: "Os Mortos viajam de Metro", "Quixote", etc. Pelo que divulgam, é uma coisa parecida com o primeiro. Indo, irei com espírito positivo - e será apenas se o FanáticoUm me sugerir.
    Saudações!
    PZ

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  15. Caro Plácido,
    Eu vou, pois mantenho-me, estoicamente, assinante. Mas não sou capaz de fazer nenhuma sugestão, dado não conhecer nada do que se vai apresentar. Confesso que também eu estou um pouco apreensivo, mas vou com espirito positivo, como sempre, claro!

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  16. Pergunto se algum dos estimados críticos alguma vez cantou no palco de um Teatro a solo, ou sequer se sabe cantar, ou se percebe alguma coisa acerca da evolução/maturação que uma voz lírica necessita e que a faixa etária dos cantores (excepto do Carlos Guilherme e Ana Paula Russo) é muito jovem e que por isso necessita ainda de algum tempo mais para chegar ao ponto certo e que só no palco o conseguirá. Também ouço muita ópera ao vivo (pois nem me passa pela cabeça comparar com CD´s) cá e no estrangeiro e não me iludo com as nacionalidades... há bons cantores mas nem todos o são e acreditem que a diferença não é assim tão grande. Não falo das estrelas pois para essas acredito que não haja €€. Sejam positivos, respeitem quem dá o melhor de si e ajudem também vocês a quem não tem as condições que os outros lá fora têm para evoluir (onde estão as outras casa de ópera em Portugal???) Tenho amigos cantores e sei o que eles passam. Criticar é também ajudar a construir e quer-me parecer que vocês apenas destroem... Desculpem mas é a minha opinião.

    Cumprimentos cordiais a todos

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  17. Anónimo,
    Bem vindo ao blog.
    Nunca cantei, de facto, num teatro; canto na banheira. E fora daí não canto, porque tenho um mínimo de consciência daquilo que faço: e se sei o que faço, sei que não tenho vocação para ir cantar para um palco. Quem não tem vocação, e, teimosamente, insiste em ir cantar sem "a evolução/maturação que uma voz lírica necessita" (palavras suas), que cante na banheira! Ou nos conservatórios, ou em casa, ou onde quiser - desde que não seja no único teatro de ópera nacional.
    Além de começar por dar uma sugestão à encenação, não sei como possa fazer crítica mais construtiva. É necessário "destruir" para poder "construir" solidamente. Não há outra solução para o que está errado de raiz.
    Cumprimentos, PZ

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  18. Generoso demais com as duas estrelas. Aquelas produções de Blue Monday e Gianni Schicci merecem nada mais do que um blob. Feias, insultantes (ao público),ineptas em termos de canto, movimento e interpretação, horrível, desastrosa encenação..o pior que já vi no TNSC (com a possível excepção de Fledermaus o ano passado)

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  19. O Anónimo não deixa de ter uma certa razão.

    Os cantores precisam de palco para crescer e evoluir. Infelizmente em Portugal a lírica é um marasmo só comparado ao Burkina Fasso ou semelhante nação de elevado nível cultural.
    Mal comparado achas que as Callas foram sempre Callas e os Kaufmann sempre Kaufmann? Todos fizeram muita porcaria antes de serem grandes estrelas! Para alem da porcaria que não ficou gravada. Eu próprio assisti, por exemplo, a uma recita do Corelli nos anos 60 em Napoles, a ser pateado de morte num Chenier por não atinar com uma nota e dar fifias atrás de fifias.


    Ainda assim acho que os cantores foram o mal menor nesta produção.
    Concordo plenamente que o encenador destruiu por completo ambas as óperas e o maestro não ajudou em nada. Sim porque até agora ninguém falou do maestro e se o encenador arruinou o palco o maestro arruinou a música. Martin André devia ficar por tentar gerir artisticamente o teatro e não tentar fazer as duas coisas. Pois acaba por não fazer bem nem uma nem outra coisa.

    Cumprimentos.

    A. Lázaro

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  20. Caros senhores,

    Após ter assistido ao espectáculo, assim como de ter ligo alguns dos post aqui colocados, gostaria de expressar a minha opinião, focando alguns pontos.

    O espectáculo apresentado, é sem qualquer dúvida de qualidade muito duvidosa, tendo uma encenação, que em bom português, não tem ponta por onde se pegue.
    Não tirando méritos a outros trabalhos do encenador ou do cenógrafo (uma vez que não os vi) este está, na minha opinião, longe de ser bem conseguido. Sinceramente, pareceu-me um trabalho diletante e "pseudo-intelectualoide", onde se apanham uns clichés de forma, tom e estilo, mal copiados.

    Sou totalmente de acordo de iniciativas que dêem experiência e protagonismo a jovens talentos, desde que o tenham, o dito talento) de preferência partilhando o palco com quem já têm uma carreira mais sólida. Mas para isso ter-se-á de empurrar jovens cantores para papeis para os quais a suas vozes não são, ou estão, apropriadas? E será que em Portugal os jovens cantores são sempre os mesmos? Deduzo que os outros cantem todos no chuveiro.
    Se acredito que fizeram o que puderam? Não, não acredito... Sim, existem dias maus... E existem papeis que nunca serão para certas, determinadas e mesmas vozes.

    Tempo e dinheiro? É isso um problema para o tão afamado espírito empreendedor e de solucionar dos portugueses? Pessoalmente, penso ser uma condicionante, não uma eterna desculpa. Mas isso digo eu, que tenho saudades (outra tão lusa característica) de assistir a um BOM espectáculo dentro das paredes de São Carlos.

    Não me parece que nos devamos dar por contentes pela mediocridade, aplaudindo qualquer coisa só porque é o que temos. Já nos basta termos apenas um Teatro Nacional de Ópera. E como, por mim falando, não me é oportuno uma viagem mensal para "pôr os ouvidos" no estrangeiro, lá vou gastar os meus euros...

    Cumprimentos e votos de melhores espetáculos

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  21. Caro Jonah MacLeod-- Bem-vindo ao blog! Presumo que não tenha visto a Cavalleria Rusticana, para dizer isso... x)

    Estou absolutamente de acordo com os dois últimos comentários; especialmente com o último. Em todos os pontos concordo com eles. Exceptuando, talvez, que os cantores tenham estado a pior nível do que a encenação. Sejam os dois muito bem-vindos ao blog. Espero tê-los por cá de novo. :D

    Último anónimo, em período de férias, vou lançar um debate que lhe deve interessar. Não se esqueça de vir ver! (E não se esqueça de ler, a propósito do "pseudo-intelectualóide", o diálogo com o encenador que vem no libretto!!!!)

    Cumprimentos a todos!

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  22. meu caro placido,

    ha muito que não passava pelo teu estaminé. Pelo que vejo a coisa não mudou muito desde que deixei essas paragens. Mas do aqui leio, algumas coisas quero dizer.

    Primeiro, relativemente as vozes jovens. Naturalmente que necessitam de crescer e em palco, mas para isso é que servem os papeis mais secundários, eventuais participações em coro, árias mais clássicas ou barrocas etc. Não é por jovens a cantar Puccini que a coisa anda mais depressa, porque, embora seja uma das operas menos exigentes do compositor, nao deixa de ser Puccini, e o gajo nao era nada meio para os cantores porque facilmente os abafa com a instrumentalização.

    Segundo: falta de dinheiro. é um facto, e todos nos estamos habituados a ele desde sempre (desde que me lembro sempre se falou em cortes orçamentais e em crise). Não se pode fazer mais com menos como alguns apregoaram por ai loucamente numas certas temporadas, mas podemos fazer o que se pode. E o que se pode fazer não é sinonimo de fazer mal. é só de fazer escolhas adaptadas à nossa realidade. e essas passam por escolher óperas que sejam menos exigentes, quer no numero de cantores pesados, quer na necessidade de produções. Não há necessidade nenhuma de se fazer sempre novas produções. Pode-se muito bem recorrer a produções antigas, básicas mas eficientes. Se o preto fica sempre na roupa, o mesmo também podemos aplicar à opera.

    Mais ainda, se o objectivo é atrair novas audiências e reconciliar-se com as velhas (que assinavam temporadas e compravam camarotes), outras alternativas podem ser tomadas. Como por exemplo, cooperações mais estreitas entre a Gulbenkian e o São Carlos.

    Naturalmente que, tal como alguem aqui mencionou, gerir um teatro de opera nao deve ser cousa fácil e criticar aqui confortavelmente sentado no sofá é muito mais fácil. Mas acho que, a alternativa nunca será por ignorar completamente as diversas formas de expressão que o publico que paga e aprecia opera, escolhe para se exprimir.

    Ps: junto-me a ti na ida a São Carlos com uma lista de propostas :)

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  23. Mais um comentário de que eu gosto, blogger.
    Depois falamos, para irmos levar "um arraso que nem sonhamos" xD
    Cumprimentos para Angola!

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