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Principal fotografia publicitária da produção: Anna Netrbko como Norina. |
Netrebko, Netrebko, Netrebko. E mais Netrebko. O espectáculo, na ausência do Ernesto de Diego Flórez (como na última produção), foi direccionado para um nome -- Netrebko. E não era caso para menos; a expectativa era a perfeição. No entanto, não sei se terá sido impressão minha, mas pareceu-me que a Diva não estava na sua total forma vocal. E apenas falo em vocal, porque é certo que cenicamente foi um estrondo: adaptou-se perfeitamente ao carácter cómico que se pedia.
Netrebko no acto II com Malatesta e o excelente Don Pasquale (John Del Carlo). |
John Del Carlo não é um cantor de grande renome -- mas um artista formidável. Tem um timbre de baixo seguro e técnica impecável, enquanto que como actor é do melhor que há. Só as suas expressões faciais foram um componente impagável do espectáculo. Sem grandes extravagâncias, actua perfeitamente em tempo e com grande comicidade.
Matthew Polenzani cantou o papel de Ernesto. Tem um timbre muito bonito, que optimiza ao máximo. Decerto não deixou ninguém a chorar porque queria ver o Flórez. Foi pena é ter ficado rouco no princípio do acto II. Talvez tivesse sido melhor ideia "limpar" discretamente a voz a meio. (Ou sou eu a inventar?)
Malatesta foi cantado por Mariusz Kwiecien. Foi óptimo, mas não me encantou como os outros. No meio de um elenco de cinco estrelas, alguma estrela há-de ficar ofuscada pelo brilho das outras...
A encenação (que desta vez vem no fim, depois da Netrebko) era a antiga. Óptima, como sempre. Talvez pouco detalhada onde devia e detalhada em aspectos de mais indirecta compreensão, como a cama partida de Pasquale: seria o velho gordo? Seria a cama velha e o velho forreta? Muita gente chamaria kitsch ao acto III. Eu prefiro fazer aquelas perguntas e dizer que adorei.
Levine foi óptima batuta, como sempre.
Netrebko no acto III, no dueto com Pasquale. |
No início, mal começou aquele ritual das tosses ("cof!"; e responde o outro de trás; "cof!", "estou aqui", chama o do lado), houve logo várias pessoas que ruidosamente mandaram as outras calar com marcados "shh!". Entre o público, esteve o ex-ministro Roberto Carneiro, pai da maestrina Joana Carneiro.
Queria aproveitar para, na sequência da análise da temporada do Metropolitan, deixar esta imagem.
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Bryn Terfel apontando para Eva Wagner no jantar da gala de abertura da temporada |
Caro Plácido,
ResponderExcluirAcabei de escrever o meu comentário e de ler o seu. Estamos de acordo, apenas com pequenas diferenças, sobretudo em relação ao tenor.
Mas este foi um espectáculo que prova que, com um elenco de luxo e uma boa encenação, se consegue transformar uma ópera banal numa obra prima.
Da Netrebko não digo nada, pois conhece bem o que penso dela. Mas concordo que raras vezes vi uma interpretação como a do John del Carlo! Um actor insuperável!
Cumprimentos musicias
De facto, o tenor não foi perfeito. Eu cá, apanhei-lhe um timbre bonito numa voz pequena bem utilizada. Mas não nego que a ária de quando ele vai corrido da casa do tio não calhou bem. Ainda assim, acho que esteve muito bem.
ResponderExcluirÉ bem verdade o que diz acerca da natureza da ópera: o elenco de luxo transformou a banalidade da ópera num espectáculo de se ver e babar.
Mas diga-me: achou que a Netrebko esteve no topo da sua capacidade? Pareceu-me que a voz estava menos "limpa" do que costuma e que pelo menos uma duas vezes ela tentou fazer umas cadências e acabou por daí estrair notas banais.
Caro Plácido,
ResponderExcluirComo sabe, tenho pela Netrebko a maior das admirações pois ela, juntamente com a Dessay, são os dois sopranos líricos que, nos últimos tempos, melhores espectáculos me têm proporcionado. E, como também sabe, valorizo muito os cantores que ainda estão no activo.
Em relação à actuação de hoje, gostei muito porque achei que vocalmente esteve muito bem e cenicamente também (e a transmissão em HD permite apreciar pormenores muito interessantes). Mas, confesso, que não é em papeis cómicos que mais gosto destas cantoras. Perfiro muito mais os papeis dramáticos porque aí elas conseguem atingir uma expressividade vocal de excepção. Mas, nesta opera banal, acho que a Netrebko nos deu uma magnífica interpretação, bem ao seu nível.
O amigo Fanático. Desde quando é que o Don Pasquale é uma opera banal? Isso até parece mal vindo de alguém aparentemente tão conhecedor.
ResponderExcluirDon Pasquale é uma obra prima dentro estilo buffo, a interacção entre os efeitos musicais e cénicos e quase perfeita. Temos aqui um Donizetti experiente e seguro da sua arte. Não nos podemos esquecer que esta foi a sua 66 ópera escrita ainda por cima para o exigente publico Parisiense! De banal Don Pasquale não tem nada!!!
Eu!
Caro Anónimo,
ResponderExcluirNão pretendo ofender mimguém com a expressão da minha opinião. Para mim, Donizetti tem várias óperas muito superiores a esta, mesmo no estilo buffo. E não sou tão conhecedor como julga! Nunca o disse ou escrevi. Estou sempre a aprender com os contributos vários nestes blogues e agradeço igualmente o seu. Mas, descular-me-á, o Don Pasquale nunca me impressionou.
Cumprimentos musicais