Palavras para quê?
É simples: este foi o concerto da temporada em Portugal. Duvido que esteja agendado mais algum espectáculo com potencial de superar a 9.ª sinfonia de Mahler dirigida por Gustavo Dudamel com a Filarmónica de Los Angeles.
Gustavo Dudamel. |
Tal como ontem, o maestro introduziu as suas ideias pouco convencionais e levou-as até ao fim da obra de modo coerente, não deixando por isso de fazer justiça à partitura do Mestre. O primeiro movimento, oscilando entre a visão expressiva e biográfica de Bernstein e a tendência de Karajan, foi arrebatador. O segundo tal impressão deixou, que até se ouvia assobiado lá fora, no fim. (A solista de viola desafinou num solo, mas não interessa...) O terceiro foi a versão mais cheia de pathos que ouvi.
O quarto movimento já foi mais convencional, dentro dos tempi habituais. Chegou de tal forma ao público, que nem tosses -- que foram terríveis sacrilégios durante a peça -- desrespeitaram o silêncio que acaba a sinfonia e, segundo a corrente bernsteiniana, simboliza a morte do compositor. Dir-se-ia que houve quase um minuto de silêncio absoluto e, depois, ovações daquelas que não se ouve todos os dias -- e de pé.