Dialogues des Carmélites no Teatro Nacional de São Carlos (crónica)
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Onze meses, cinco óperas e duas peregrinações operáticas depois, seria desta que o P.Z. voltaria a S. Carlos! Dialogues des Carmélites, de Poulenc, parecia um título suficientemente atractivo. Trata-se de uma ópera raramente vista, extremamente difícil de interpretar e de apreciar. Porém, defensores de ópera mais moderna encontram nela grande valor. O P.Z. tem uma atitude exploratória em relação a este género de música porque teve duas experiências recentes que lhe mostraram o poder deste tipo de ópera: O Jogador, de Prokofiev, e Pelléas et Mélisande, de Debussy. São obras intimamente ligadas à expressão desinibida do sentimento humano, sendo o drama fortemente subsidiário da miséria e da aflição das personagens. Além das singularidades estilísticas da música, a preferência por este tipo de abordagem artística à vida é altamente discutível.
Para muitos daqueles que já ouviram e já esqueceram as traviatas e os rigoletos, Diálogos das Carmelitas pode parecer uma atracção exótica e sugestiva. Inesperadamente, há já pouquíssimos bilhetes à venda. Haverá assim tantos apreciadores de ópera em Portugal? E tantos desses dispostos a arriscar ficar a penar mais de três horas em S. Carlos com uma ópera deste género? Dialogues não é uma ópera como a Traviata: o enredo fantasioso, em que o amor acontece à primeira vista, dá lugar a um libreto cruelmente verosímil e a beleza melódica é reconstruída por uma sonoridade dissonante, produzindo uma sensação de desassossego constante.
A ópera desenvolve-se em torno de um misto de incerteza e medo, propício à apresentação de profundas discussões morais da vida num grupo de carmelitas enclausuradas num convento por tempo indefinido. Dialogues apresenta o medo de ter dúvidas e de não evitar questionar a fé, lado a lado com o medo da desobediência a Deus ou, até mesmo, o receio da perda do sentimento de pertença à sociedade. Agravadamente, as carmelitas também estão sujeitas ao medo de ter medo e à incerteza da vontade divina e de se desviarem de uma possível predestinação. Até na hora final, surge o medo de a dúvida sobre tudo isto impedir Blanche de conformadamente subir as escadas do cadafalso. Dialogues é uma ópera profunda, introspectiva e friamente humana.
Enfim, o P.Z. até estava interessado em ver o trabalho de Luís Miguel Cintra com esta ópera e contava com o empenho dos cantores, que certamente serão bem guiados pelo maestro João Paulo Santos. Por curiosidade, não deixa de se perguntar qual terá sido a motivação para a escolha deste repertório. Afinal de contas, não é nem uma ópera conhecida, nem fácil de se compreender, nem de se interpretar. Que interesse prático estará a ser servido por esta programação? O P.Z. não sabe. Infelizmente, não será desta que o P.Z. voltará a S. Carlos: apenas porque já não há lugares para ver confortavelmente esta ópera que, dependendo da produção, pode ser um grande prazer ou, alternativamente, três horas de sofrimento.
Reflectindo sem rodeios, parece mais do que evidente que uma boa porção daqueles que compraram bilhetes não estava preocupada com que tipo de ópera era; antes com o simples facto de ser uma ópera. Aliás, tal foi a agressividade da campanha de marketing em torno da produção, que até cartazes (dos grandes!) andam espalhados pelas ruas da capital. O P.Z. fica contente por saber que S. Carlos está a atrair público. Para os entendidos, resta esperar que estes Diálogos lhes mereçam a confiança depositada. Quanto aos curiosos… é Poulenc! Os curiosos?! Esses nem imaginam no que se meteram!
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No Domingo lá irei, P.Z. E vou expectante... E não, não sou um curioso, sei bem no que me vou meter (novamente)!
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