Das Rheingold | Met Live in HD

O meu interesse em ver esta produção, antes de ser pela excelente direcção musical ou pela qualidade dos cantores, era pela encenação, que correspondeu para cima de 100% à minha expectativa. Lepage recorre ao simples do ponto de vista visual para chegar à perfeição -- que muitos tentam alcançar sem sucesso pela complexidade. Nesta linha de pensamento, talvez tenha achado o esquema de luzes das cenas dos gigantes um pouco sobretrabalhada. Para a próxima, haverá decerto melhorias que distingam o 19,5 do 20.

Alberich tenta trepar até às filhas do Reno, sendo que escorrega (está no libretto) numa espécie de bolas que podemos observar que deslizavam em função de como tentava trepar o nibelungo.
Alberich renuncia e maldiz o amor e rouba o ouro do Reno às 3 creaturas que o provocavam e gozavam.
Freia implora que não seja oferecida aos gigantes.
Loge consola Freia com a energia do seu fogo.
Os gigantes Fasolt e Fafner acabaram o seu trabalho; agora, exigem o pagamento previamente combinado com Wotan: Freia. Nesta parte, apenas Fricka, sua irmã e esposa de Wotan a protege inteiramente, antes de chegarem os outros irmãos.
Chegam os irmãos -- Froh e Donner --, que pretendem salvar Freia "à força". Wotan, sem saber o que fazer, impede-os.
Wotan segue Loge na descida para Nibelheim. Note-se que se as filhas do Reno desafiavam a gravidade a seguir ao prelúdio, esta cena (que se repetiu para a ascenção à montanha dos deuses) ainda a desafiava mais: os dois personagens, tal como se vê, andavam paralelos ao chão (suspensos por cabos, claro), num timing perfeitamente sincronizado com a música e as bigornas!
Alberich recebe o tarnhelm de Mime.
O fabuloso Mime conta a Loge e a Wotan as façanhas de seu irmão Alberich, que escravizava os nibelungos.
Wotan e Loge desafiam Alberich a demonstrar o poder do tarnhelm...
... e Alberich transforma-se numa gigantesca serpente. Eu vi este momento concebido com uma projecção da espinha do monstro diferente: não havia quaisquer labaredas, pelo que o cenário era mais discreto e a serpente mais bem concebida. Esperto, Loge desafia o nibelungo a tornar-se pequeno como um sapo; e este transforma-se num sapo grande e obeso que fez todo o público rir no Met. Depois prendem-no dentro de uma espécie de pote.
Já na montanha dos deuses, Wotan exige em troca da liberdade do nibelungo todo o ouro do outro.

Wotan tira o derradeiro pedaço de ouro de Alberich -- o anel -- e sente o seu poder. Mais interessante seria arranjar imagens de quando ele o empunhava reluzente na mão e o olhava. Terfel actou muito bem nessa cena. Repare-se também na imagem de cartaz, que publicita a genial caracterização de Wotan, com o cabelo pendente sobre o olho que não tem. Fantástico, hem?
Fricka e seus irmãos tentam convencer Wotan a prescindir do anel do poder.
Desenrolada a história, os deuses ascendem ao tão desejado Walhala pelo caminho do arco-íris numa cena estupendamente bem concebida com a plataforma do cenário.
Como Wotan, Terfel foi arrasador. Cantou, actuou... não lhe faltou nada!
Eric Owens, apesar de ser negro, não tinha a voz tão negra como eu gostaria de ouvir a Alberich (metáfora?). Ainda assim, foi arrasador. E um óptimo actor!
Loge foi cantado por Richard Croft, e fez um papelão!...
Mime. Mime? ARRASADOR!! Óptima voz, e actuação ainda melhor. Sem falhas! No entanto, pergunto-me se conseguirá envelhecer ao ponto de ficar o velho traidor de «Siegfried». Saberemos daqui a um ano.

É pena não termos visto uma transmissão em directo. De qualquer modo, acho que uma semana foi tempo suficiente para se ter corrigido e reposto a parte que se saltou do 2.º quadro, quando chegavam Froh e Donner! O grande auditório não encheu por pouco. É um projecto para continuar  -- e AO VIVO.

Todas as imagens contidas neste post são da autoria de Ken Howard/Metropolitan Opera e foram retiradas daqui.

6 comentários:

  1. Caro Plácido,

    Não o referi na minha crítica mas sim, esse salto de "fita" impedindo vermos a entrada de Donner e Froh na 2ª cena foi lamentável.

    Cumprimentos musicais.

    ResponderExcluir
  2. Caro Plácido,
    Não usei a escala numérica de fruição que sempre uso porque, tratando-se de Wagner, é o wagner_fanatic que escreve sempre, dado ser um conhecedor profundo. Mas se a tivesse utilizado, não andaria muito longe da sua. De aqui em diante é, como referiu o wagner-fanatic, o antes do Lepage e o depois do Lepage. Encenação fabulosa que nos deixa em grande expectativa para as próximas óperas do Anel.
    Cumprimentos musicais

    ResponderExcluir
  3. Sem dúvida. a.L. e d.L : uma nova era, meus caros Fanáticos :-)
    Vamos lá ver o que pensam o blogger e o Dissoluto disto.

    ResponderExcluir
  4. Eu já pensei e ja escrevi. Concordo com os fanáticos. E acho que me ando a começar a render a Wagner...

    ResponderExcluir
  5. Wagner é uma espécie de vício, blogger. Primeiro estranha-se, depois entranha-se.

    ResponderExcluir
  6. A respeito desta encenação de Lepage - e não do elenco escolhido pelo Met - deixo o link da apresentação feita pela Drª Gundula Kreuzer na conferência WorldWideWagner em 2013 na Universidade de Bayreuth. Verão que esta senhora não é nada simpática para com o Lapage e a sua leitura de Wagner, mas dirão de vossa justiça depois de terem assistido ao vídeo.
    https://www.youtube.com/watch?v=nhQDqy8oJmY

    ResponderExcluir