5 anos!!

Os últimos meses deste blog têm sido de escassez, embora o P.Z. tenha recentemente vivido o período operático mais intenso da sua vida. (Calma, foi no estrangeiro…) Passe agora a mensagem: o P.Z. ainda está vivo! Há um ano, circulou um inquérito sobre o blog, cuja conclusão geral é que falta frequência na actualização. O melhor será advertir desde já os leitores de que melhorar esse aspecto será difícil visto que este blog é, sobretudo, sobre “Ópera & Música Clássica em Lisboa.” Quanto a ópera, não garante um post por mês; e a vertente de música clássica (leia-se Gulbenkian) é a que menos atrai leitores, pelo que raramente é justificável escrever sobre o assunto. O P.Z. vai tentar o seu melhor—não ficou esquecido quem perguntou como é que se pode apreciar ópera em línguas estrangeiras—mas, ainda assim, o P.Z. não pode assegurar mais de um post por mês. O P.Z. poderá escrever mais crónicas. Porém, ainda assim, estas têm alguma audiência mas pouco servem o seu objectivo: estimular os leitores a trocarem opiniões. Quem for muito curioso pode seguir o P.Z. neste outro blog (em inglês). Mais textos na próxima semana!

Drama (crónica)

Há boas notícias e más notícias. As boas são que a última Macbeth do Teatro de S. Carlos pode ser encarada como uma ópera, com coerência e um tom geral de espectáculo. Os solistas apresentaram-se em grande nível, pesem embora uma pobre direcção musical e, de certo modo, uma fraca direcção de actores digna do teatro Mariinsky, onde Don Giovanni e Aida são dados aparentemente sem ensaio geral. Desta situação é prova a constante alternação entre opções não  convencionais, como em “la luce langue,” e a acção simplesmente convencional de quaisquer personagens secundárias. 

As más notícias são precisamente essas: um bom espectáculo, provavelmente ao nível de atrair e manter audiências, mas com uma sensação dramática quase nula. Por outras palavras, esta produção foi boa mas não era possível entrar dentro dela. Para sua sorte, alguns leitores já se esqueceram—se é que sabem—o que isso é. E o P.Z. pode garantir que é possível prestar total atenção a uma ópera: estar mais preocupado com o drama do que com a técnica vocal ou com aquela cadeira que tremia; sentir na pele o arrepio daquele momento em que a orquestra cresce ou quando as vozes se unem; ou quando texto e música se cruzam em perfeita sintonia.

É possível fazer ópera diferentemente de qualquer vaudeville, em que os actos de ilusionismo se seguem em perfeita harmonia à execução a números líricos. Na ópera, a junção chama-se drama: quando os intérpretes são excelentes, a encenação tem um conceito bem desenvolvido, a orquestra ajuda e tudo se compõe em irresistível sintonia  dramática. O P.Z. compreende, portanto, as críticas negativas em relação à recente produção de Macbeth em S. Carlos, se bem que não tenha a certeza de qual seja o segredo de alguns grandes teatros para produzir este efeito. Neste caso, as pequenas distrações estiveram em demasia, como foi apontado. A questão é perceber o que está para além disso.


Numa entrevista recente, Plácido Domingo—o rei que tem disfrutado de 6 décadas de grandes louros—comentou que o “nível de qualidade” da produção de ópera tem aumentado devido à intensificação dos ensaios gerais. Porém, sabe-se que isso é difícil em S. Carlos, onde os subsídios estatais são menores e os bilhetes relativamente baratos, concorrendo para orçamentos reduzidos. Em última análise, o drama escasseia em Lisboa embora as condições necessárias em termos vocais estejam já reunidas. Se não tivesse sido o caso, o P.Z. teria prontamente avaliado esta Macbeth em 5 estrelas, apesar de comparar duplas como Rysanek e Warren ou Netrebko e Lučik a Matos e Òdena ser um salto bem arrojado.