Exposição "Noites em S. Carlos" (Crítica / Crónica)

Fot. TNSC.
O Teatro Nacional de S. Carlos acertou em cheio ao abrir as suas portas para uma exposição das suas instalações e de alguns dos misteriosos conteúdos que encerra, repletos de pequenas histórias e deslumbrantes relíquias de outros tempos. Perguntava um dos membros do grupo que o P.Z. integrou, "mas isto ainda é tudo para um público-alvo, não é?": não poderia estar mais redondamente enganado este debutante no teatro de ópera nacional, e a prova disso é o fascínio geral que se observa nas expressões das tantas pessoas que nunca tinham estado em S. Carlos e certamente voltarão para uma noite ou tarde na ópera.

As visitas guiadas ao teatro já se realizavam por marcação de grupos. Porém, são os trajes de cena, os adereços e os cenários agora expostos--intimamente associados ao efeito de acompanhamento virtual proporcionado pelas silhuetas de cartão dispostas na plateia e nos camarotes--que atraem os (potenciais) expectadores. Afinal, nada mais do que arquitectura é um teatro vazio; e a ópera requer canto, cenários e adereços, artistas e público. Todos esses elementos estão presentes na exposição, ainda que de forma algo frugal. Dependendo do guia, o visitante poderá também aprender sobre assuntos prodigiosos, como a "Madame Butterfly" do compositor Giócomo Puccini, a ópera "Lúcia de Lamór", de Donizetti, ou a Serentíssima Princesa D. Carlota Joaquina. Um dos prospectos que atraía pessoalmente o P.Z. a esta exposição era o de aprender algumas das tais peripécias que compõem a história do teatro e que, indubitavelmente, seriam do interesse e carinho geral do público, mas esse aspecto ficou inteiramente por preencher.

Fernando Carvalho, comissário da exposição, admite em reportagem à SIC que a reutilização do espólio do teatro permitiria ter "uma boa Butterfly, um bom Pinkerton": o P.Z. não poderia concordar mais com tal opinião, dado que o pouco material agora exposto é claramente muito melhor do que as mediocridades estéticas caras que têm vindo a ser apresentadas no cadafalso no palco de S. Carlos. Se passam anos ou décadas entre a produção de uma dada ópera, que mal tem a reutilização da produção anterior, dado que essa será guardada, de qualquer forma, para exposições (que provavelmente só exporão os artigos daqui a uns 100 anos) e para esse efeito se pagará avultados prémios de seguro? Já em Barcelona se repuseram em palco cenários dos anos 1940'.

Principiantes, vão hoje ver a exposição porque, mesmo que venham a gostar de ópera no futuro, não é certo que voltem a ver cenários e objectos cénicos desta categoria--pelo menos em S. Carlos!